*artigo atualizado em fevereiro de 2025.
A cocaína é uma das substâncias psicoativas mais utilizadas no mundo, com efeitos imediatos que podem alterar drasticamente o comportamento e a saúde física do usuário.
Especialmente prevalente entre jovens adultos, este estimulante potente tem consequências que vão além do breve estado de euforia, levando a problemas graves e duradouros que impactam não apenas o indivíduo, mas também suas famílias e comunidades.
Ao entrar no sistema, a cocaína provoca uma intensa liberação de neurotransmissores como a dopamina, causando sensações de extremo prazer e energia. No entanto, os efeitos imediatos podem ser enganosos; o uso prolongado e repetido pode devastar o sistema nervoso central, resultando em danos permanentes e, muitas vezes, fatais.
O uso da cocaína no Brasil
Segundo estudos publicados no II Levantamento Nacional de Ácool e Drogas (LENAD), o Brasil é o segundo maior consumidor de cocaína no mundo.
Quase 6 milhões de brasileiros (4% da população adulta) já experimentaram alguma apresentação de cocaína na vida. Este índice foi de 3% entre adolescentes, representando 442 mil jovens.
Como a cocaína é consumida e seus efeitos imediatos
Consumida geralmente por inalação, injeção ou até mesmo esfregada nas gengivas, a cocaína alcança rapidamente o cérebro, onde altera a química cerebral de forma significativa.
Essas mudanças levam a alterações no humor, aumento da agressividade e, frequentemente, decisões de risco que podem ter consequências legais e de saúde a longo prazo.
Os efeitos da cocaína a longo prazo e a urgência de compreensão
Embora os efeitos imediatos possam parecer atraentes para alguns, é crucial entender os danos duradouros associados ao consumo de cocaína. Estes incluem problemas cardíacos graves, deterioração da função mental, e uma probabilidade aumentada de desenvolvimento de dependência.
Na sequência deste artigo, exploraremos mais detalhadamente o que é a cocaína, como é produzida e os motivos históricos e culturais que contribuíram para sua proliferação.
No entanto, é vital que aqueles que estão considerando seu uso ou que já estão envolvidos compreendam os riscos substanciais e muitas vezes irreversíveis associados a esta droga.
O que é a Cocaína e como ela é produzida
A cocaína é extraída das folhas da planta de coca, nativa da América do Sul, especialmente encontrada em países como Peru e Bolívia. O processo de fabricação envolve a extração da pasta das folhas, seguida por uma série de refinamentos químicos que usam substâncias como ácido sulfúrico, amônia e querosene, culminando na forma cristalina conhecida como cocaína.
No entanto, a pureza da cocaína que chega às ruas é frequentemente comprometida. Durante o processamento e distribuição, a droga é frequentemente diluída ou “cortada” com uma variedade de substâncias, como anestésicos, cafeína, e até produtos tóxicos, aumentando assim os riscos para a saúde dos usuários.
A forma mais comum de cocaína é o pó branco, que é mais frequentemente consumido por inalação através das narinas, embora também possa ser injetado ou esfregado nas gengivas.
Cada método de consumo afeta a rapidez e a intensidade dos efeitos da droga no corpo e no cérebro, destacando a imprevisibilidade e perigo inerentes ao seu uso.
Cocaína: uma droga psicoativa
Por se tratar de uma droga psicoativa, a cocaína atinge diretamente o cérebro, mas esse não é o único problema e estrago causado por essa droga.
Ela também atinge outros órgãos no corpo, e é isso que faz dela uma das drogas mais perigosas e também uma das mais atuantes no sistema nervoso.
Segundo estudos realizados pela Fiocruz, o uso prolongado provoca a morte de neurônios e compromete áreas associadas ao autocontrole e tomada de decisão.
Efeitos da Cocaína no corpo
A cocaína entra no organismo de forma rápida, principalmente quando inalada ou injetada, atingindo o cérebro em poucos minutos. Uma vez no sistema, ela interfere na comunicação neuronal, provocando efeitos intensos no corpo e na mente.
Além de bloquear a recaptação da dopamina, a cocaína também afeta os níveis de serotonina e noradrenalina, neurotransmissores responsáveis por regular emoções e o estado de alerta.
Essa combinação cria sensações de euforia, energia e confiança, mas também acelera a exaustão do sistema nervoso, levando a colapsos emocionais e físicos após o uso.
Os efeitos da cocaína fazem com que a preocupação acerca do uso da droga seja dobrada.
Ter conhecimento disso faz com que o uso possa ser repensado, ou que sejam adotadas medidas de redução de danos, observando sempre a saúde do usuário.
Infelizmente, nem sempre falar sobre os efeitos da cocaína pode fazer com que a pessoa repense o uso da droga. Para isso é fundamental a procura de uma ajuda profissional que saiba como lidar com essas questões e possa também fazer o manejo da abstinência.
Conheça alguns efeitos que são cientificamente comprovados e que devem ser observados atentamente.
1. Danos cerebrais
Um dos efeitos da cocaína que mais preocupa é a ação que ela tem diretamente no sistema nervoso central. O sistema nervoso central inclui também o cérebro, que é responsável pela maior parte dos serviços de outros órgãos, controlando tudo o que acontece no nosso corpo.
A toxina presente na cocaína tem acesso direto ao nosso cérebro, e lá faz todo tipo de alteração, o que deve ser observado atentamente, pois é nas alterações no cérebro que começamos a observar todos os efeitos da cocaína, sendo então o primeiro local onde ocorre tal feito.
Primeiro, ela diminui consideravelmente o número de neurônios, mas aumenta a atividade sináptica, fazendo com que os usuários fiquem muito agitados.
Ao fim, os neurônios são, pouco a pouco, eliminados por conta da alta taxa de intoxicação, e também por outros distúrbios causados pela droga.
O aumento na atividade sináptica gera, dentre outros efeitos, alucinações visuais ou auditivas, o que é altamente perturbador para quem os tem.
Esse é um dos efeitos da cocaína mais perceptíveis, sem que se precise nenhum exame, exatamente por ser devastador e acabar com todos os neurônios.
2. Afeta o coração
Um dos efeitos da cocaína que mais causa estragos, depois dos danos cerebrais, é o que essa droga faz com o coração do usuário.
Por se tratar de uma droga que ativa o sistema nervoso central, ela pode acelerar os batimentos cardíacos. Assim, se a pessoa que está usando a droga tiver algum tipo de problema de coração, pode sofrer sérias consequências decorrentes do uso.
A cocaína pode desencadear arritmias e infartos agudos do miocárdio, mesmo em usuários jovens sem histórico de doenças cardíacas.
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3. Efeitos nos rins
Além de atacar diretamente o coração, a cocaína pode também afetar o desempenho direto dos rins, de maneira crônica e irreversível.
Isso ocorre por conta dos hormônios que são liberados em grande quantidade, o que sobrecarrega a função dos rins, a ponto desses órgãos não darem conta do trabalho.
Além disso, o índice de intoxicação é alto, o que também faz com que eles trabalhem cada vez mais, acarretando sérios problemas futuros.
Dessa forma, é muito comum que usuários de cocaína tenham problemas renais agudos, o que é algo para ser avaliado e merece muita atenção.
4. Altera o apetite
Outro efeito decorrente do uso de cocaína é a alteração brusca do apetite, e que também pode ser observado no dia a dia do usuário.
Quando a pessoa está sob efeito da droga, geralmente não quer comer, e esse efeito pode durar muitas horas.
Após o efeito é natural que o usuário sinta muita fome e coma de maneira exagerada, afinal, dispensou muita energia durante o uso e o efeito da cocaína.
Portanto, esse é um dos efeitos da cocaína que também pode ser observado por quem acompanha o usuário, a fim de que se possa identificar o uso.
Efeitos da cocaína decorrentes do uso constante, a longo prazo
A longo prazo, os efeitos da cocaína podem ser devastadores e acabar com a vida do indivíduo, caso não seja tratado da maneira adequada.
A atividade renal é prejudicada assim como o fígado, que vai ter sérias lesões decorrentes da intoxicação por substâncias da droga.
As alucinações passam a ser constantes e existe uma alteração muito alta no índice de massa corpórea, fazendo com que o usuário fique abaixo do peso ideal para sua saúde.
Além destes efeitos, o coração é um dos órgãos mais afetados, sofrendo importantes intercorrências, podendo não suportar.
Efeitos a curto prazo
A curto prazo os efeitos da cocaína são muito mais comportamentais e suas ações podem ser observadas por qualquer pessoa.
Geralmente, os indivíduos que estão usando cocaína, a curto prazo, apresentam agressividade excessiva e alteração significativa no apetite, como já mencionado.
Nesse momento costumam se afastar das pessoas, e apresentam comportamento agitado, de maneira que não conseguem conversar por alguns minutos com ninguém.
Além disso, pode ser observada também uma alteração significativa no sono, o que faz com que o usuário fique em vigília ou dormindo por muito tempo.
Aspectos psicológicos e emocionais
A cocaína não apenas altera o funcionamento do cérebro, mas também impacta o bem-estar emocional. Usuários frequentemente desenvolvem quadros de paranoia, alucinações e transtornos de ansiedade.
Em nossa prática clínica é muito comum pacientes acreditarem que estão sendo traídos por seus parceiros, espionados por seus vizinhos, perseguidos pela polícia ou por pessoas que “podem” provocar mal a elas. Isso as torna mais defensivas e agressivas. Pode levar a agressões e problemas judiciais maiores e as coloca em risco de sofrerem agressões e acidentes em geral. Claro, além de outros danos, como por exemplo, a expulsão de seu condomínio residencial.
Por isso que em casos mais graves, podem ocorrer esses episódios de psicose, nos quais o indivíduo perde contato parcial ou total com a realidade. Além disso, a dependência psicológica da droga é intensa, e muitos usuários relatam uma sensação de vazio emocional e incapacidade de sentir prazer em atividades normais devido à alteração do sistema de recompensa cerebral.
Outro efeito preocupante é o desenvolvimento de sintomas depressivos. O uso contínuo de cocaína pode levar a episódios de depressão profunda, marcados por desmotivação, tristeza persistente e isolamento social. Isso ocorre porque a droga interfere na regulação de neurotransmissores como a dopamina e a serotonina, substâncias essenciais para o equilíbrio do humor. Com o tempo, o usuário pode se tornar emocionalmente instável e vulnerável a pensamentos autodestrutivos, aumentando o risco de comportamento suicida.
Muitos pacientes com transtornos por uso de substâncias psicoativas (dependência química), chegam ao consultório apresentando ideação suicida e com as pessoas que utilizam cocaína não é diferente, pelo contrário, é muito comum e isso aumenta demais as chances de uma potencial bela vida ser interrompida.
Fato interessante e que serve de alerta, está presente no relato da maioria esmagadora dos dependentes de cocaína, é que a porta de entrada para essa droga foram substâncias como: cigarro/vape, álcool e maconha. Mas vale aqui uma menção sobre essas substâncias, elas não são problemáticas apenas por servirem de porta de entrada para outras que poderão proporcionar danos mais rápidos, como é o caso da cocaína, mas elas são passíveis de trazerem por si só danos significativos à vida do indivíduo.
Tratamentos disponíveis para a dependência de cocaína
O tratamento da dependência de cocaína é complexo e deve ser adaptado às necessidades individuais do paciente. Ele geralmente combina abordagens psicológicas, farmacológicas e tecnológicas para aumentar as chances de recuperação.
1. Terapias psicológicas e comportamentais
- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Uma das abordagens mais eficazes, a TCC ajuda o paciente a identificar e modificar padrões de pensamento e comportamento que levam ao uso da droga. Além disso, ensina estratégias para lidar com gatilhos e prevenir recaídas.
- Entrevista Motivacional (EM): Técnica voltada para fortalecer a motivação do paciente em busca da recuperação, ajudando-o a superar ambivalências e desenvolver um compromisso com o tratamento.
- Terapia de Reforço Comunitário (CRA): Estratégia que associa mudanças no ambiente social e ocupacional do paciente para incentivar a abstinência e promover um estilo de vida saudável.
- Terapias em Grupo e Grupos de Apoio: Participação em Narcóticos Anônimos (NA) e outros grupos pode oferecer suporte emocional e fortalecer o senso de pertencimento durante a recuperação.
2. Tratamentos farmacológicos
Atualmente, ainda não há um medicamento aprovado especificamente para tratar a dependência de cocaína, mas algumas pesquisas apontam para o uso de certas substâncias que podem ajudar:
- Modafinil: Fármaco utilizado para tratar narcolepsia e distúrbios do sono, demonstrou potencial para reduzir o desejo pela cocaína e melhorar funções cognitivas.
- Baclofeno: Um relaxante muscular que tem sido estudado por sua capacidade de reduzir o desejo pela droga.
- Antidepressivos e estabilizadores de humor: Como a cocaína afeta neurotransmissores como dopamina e serotonina, esses medicamentos podem ajudar a tratar sintomas depressivos associados à abstinência.
3. Inovações tecnológicas no tratamento
- Estimulação Magnética Transcraniana (EMT): Técnica que utiliza pulsos magnéticos para modular áreas cerebrais relacionadas ao vício. Estudos mostram que pode reduzir o desejo por cocaína e melhorar o controle dos impulsos.
- Neurofeedback: Terapia baseada no treinamento do cérebro para melhorar padrões de atividade neural, ajudando na regulação emocional e controle da compulsão pelo uso da droga.
- Aplicativos e Inteligência Artificial: Aplicativos de saúde mental oferecem suporte contínuo ao paciente, auxiliando no rastreamento do humor, prevenção de recaídas e fornecimento de estratégias de enfrentamento personalizadas.
4. Internação e programas de reabilitação
- Internação Hospitalar: Indispensável para casos graves de dependência, especialmente quando há risco de complicações psiquiátricas ou físicas.
- Comunidades Terapêuticas: Ambientes estruturados onde o paciente pode passar meses focado na reabilitação, longe de influências negativas.
- Tratamento Ambulatorial: Indicado para casos moderados, permite que o paciente continue sua rotina enquanto recebe suporte terapêutico.
Prevenção e educação: estratégias para reduzir o uso de cocaína
A prevenção é uma das estratégias mais eficazes no combate ao uso de cocaína e outras drogas. Ela envolve não apenas a conscientização sobre os riscos, mas também a criação de ambientes sociais e educacionais que desencorajam o uso de substâncias.
Para isso, diversas iniciativas têm sido desenvolvidas por governos, instituições educacionais e comunidades.
1. Programas Educacionais
- Educação Preventiva nas Escolas: Inserir conteúdos sobre os efeitos das drogas no currículo escolar tem se mostrado uma estratégia eficaz. Programas baseados em evidências, como o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD), ensinam crianças e adolescentes a tomarem decisões saudáveis e a resistirem à pressão social.
- Campanhas de Conscientização: Ações como o Dia Nacional de Combate às Drogas ajudam a disseminar informações sobre os perigos do uso da cocaína e promover estilos de vida saudáveis.
- Envolvimento da Família: Programas que capacitam pais e responsáveis para conversarem com os filhos sobre drogas contribuem significativamente para a prevenção, criando um ambiente de diálogo aberto e seguro.
2. Políticas Públicas
- Legislação e Regulação: O fortalecimento das leis antidrogas e o controle rigoroso sobre substâncias químicas utilizadas na fabricação da cocaína são medidas governamentais essenciais para dificultar o acesso à droga.
- Investimento em Saúde Mental: O fornecimento de serviços gratuitos de apoio psicológico e psiquiátrico ajuda a prevenir o uso de drogas como uma forma de automedicação para transtornos como ansiedade e depressão.
- Projetos de Redução de Danos: Embora o foco principal seja a prevenção, algumas iniciativas buscam reduzir os danos entre usuários, oferecendo tratamento acessível e distribuindo informações sobre riscos e formas de buscar ajuda.
3. Iniciativas Comunitárias
- Projetos Sociais para Jovens: Iniciativas que incentivam o esporte, a cultura e o lazer, como oficinas de arte, música e atividades esportivas, são fundamentais para ocupar o tempo de crianças e adolescentes de forma produtiva, reduzindo a exposição a ambientes de risco.
- Centros de Apoio e Grupos de Ajuda: Comunidades que oferecem suporte contínuo para jovens em situação de vulnerabilidade e ex-usuários de drogas desempenham um papel importante na reintegração social e na prevenção de recaídas.
- Parcerias com Empresas e Organizações: Programas de capacitação profissional e geração de emprego para populações em risco ajudam a criar oportunidades e reduzir os fatores que levam ao uso de drogas.
Clínica Marcelo Parazzi
Se você ou algum familiar tem sofrido com os efeitos da cocaína, a nossa clínica pode ajudar.
Nossa abordagem combina Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), por meio de tratamentos tradicionais com psicólogos e terapias complementares que comprovadamente auxiliam nos resultados do tratamento.